sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

MARÉ

Seus olhos lutavam para não marejar. Ela olhava para cima para barrar a água salgada dos olhos. A moça ia sentada no banco do vagão do trem, passando pelas estações sem nem ver nada. Onde ia descer não fazia diferença.
Sua perna esquerda cruzava sobre a direita e seu cotovelo esquerdo se apoiava no joelho, também esquerdo. Assim, sua mão podia encontrar seu rosto para ela poder apoiar todo o peso do seu pensamento ali. Mas por mais que tentasse não se dispersar, não conseguia e vagueava.

Seu sorriso invertido conversava com seu queixo que queria chorar. Chorosa, ela pedia a si “Não chore”. Mais por ela que pelos outros, que talvez a estivessem observando, como eu fazia. Ela não se permitia, e o eu é o mais inflexível dos inquisidores.
Por mais que se tentasse ver, ela deixava os porquês impenetráveis. Ao mesmo tempo ela entregava sua inquietação interna pelo externo, e sabia disso. Julguei que fosse um amor que a deixara assim, mas que importa meu suposto acerto.

Ela usava roupas pretas e jaqueta jeans, pra dar um ar de Joan Jett. Fones pendiam dos seus ouvidos, mas ela não cantava com a música como a maioria dos jovens faz, absortos nas melodias dentro do transportes públicos. As ondas vibravam em seus ouvidos para distrai-la de seus pensamentos. Não estava funcionando. E se o coturno batia ritmadamente no chão, não devia ser pra acompanhar a música que não era ouvida.

Ela colocava o cabelo atrás da orelha, repetidamente, mesmo que a mecha já tivesse sido domada há tempos. O que acontecia? EU quase fui perguntar. Quase... cheguei a me curvar pra frente, prestes a levantar, mas algo me puxou de volta. Minha consciência... “Você vai levantar de curioso, e não de solidário. Senta”. É, ela estava certa.
A moça olhava novamente para cima agora. Mas dessa vez ela não conseguiu, não pôde segurar. Seus olhos choraram e suas mãos os cobriram, como para censurá-los. Alguns segundos depois eu me levantei. A última estação chegou: meu ponto final. Eu saí, e as portas se fecharam logo atrás. Ela ficou, e se recolheu junto com os trens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário